sábado, 23 de abril de 2011

A praga do plágio

Recentemente o ministro alemão da Defesa pediu demissão porque foi pilhado na sua tese de doutoramento: ele copiou várias passagens de fontes alheias e não citou as obras e os autores. Claro que por aqui é difícil acreditar que alguém tivesse atitude tão nobre.

O ato-falho lhe custou o importante cargo e o epíteto de googleberg – Guttenberg é uma parte do seu sobrenome. A revista Veja noticiou e algumas edições depois (2 de março), publicou matéria com o título “O plágio na era digital”, em que a jornalista Roberta de Abreu Lima aborda com exuberante propriedade o assunto da usurpação de ideias alheias, tornando público o caso de um doutor em bioquímica, catedrático da Universidade de São Paulo – “publicou 115 artigos científicos, foi laureado com prêmios, recebeu bolsas de estudo, orientou e avaliou dezenas de estudantes de mestrado e doutorado em todo o País” –, que também foi descoberto por plágio num de seus trabalhos escritos publicado havia três anos na mais importante revista de sua área.

O vocábulo plágio consta ter origem no grego plágios – com influência do latim –, que significa trapaceiro. Segundo os dicionaristas é assinar ou apresentar como sua obra artística ou científica de outrem. No tom jocoso é a “síndrome do Zé moleza”. Não pode ser irresistível. A desonestidade intelectual é crime contra a propriedade Intelectual – Código Penal, “crime de violação de direito autoral” –, tem reprovação na Constituição Federal – aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras – e em legislação de regência.

A abundância de informações e o fácil acesso a elas, principalmente na rede mundial de computadores, por meio das ferramentas eletrônicas de buscas disponíveis sempre cada vez mais espetaculares, devem servir ao conhecimento e para o aprimoramento da constante formação profissional. O texto que reproduz fragmentos de obras alheias como meio de integrar o pensamento próprio ou como força argumentativa para o convencimento que se deseja deve indicar a fonte. É a ética.

As autoridades da educação precisam olhar bem para o problema, antigo, que afeta até o ensino fundamental e o médio. Não seria demais intensa campanha institucional. As Universidades despertaram. Nos meios acadêmicos a coisa é grave. Também na imprensa: os jornalistas blogueiros são os que mais reclamam dos tungadores. No mundo dos plágios famosos, Roberto Carlos – música “o careta” – foi condenado pagar quase dois milhões de Reais. O escritor Paulo Coelho também teve os seus incômodos.

No plano particular, a nós, principalmente pais e educadores, cabe o dever, a atitude interessada, responsável, de alertar filhos e estudantes para os malefícios da praga dos plágios, sobretudo para que não se formem mentes preguiçosas de raciocínio e por conseqüência pobres de vocabulário a prejudicar suas carreiras.

O assunto deve igualmente começar a ser uma constante preocupação das corporações dos órgãos de classe, especialmente as das ciências das letras. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por bom exemplo. Contestamos na semana passada uma pretensão na justiça comum estadual em que uma página inteira da petição inicial foi exportada de texto alheio publicado na Web. A redação saltou de repente de mediana para impressionante. Foi fácil desconfiar. E descobrir: existem programas de computador “caça-plagiadores”. A prática despudorada, abusiva, da utilização nas produções profissionais de textos jurídicos sem o devido crédito impõe aos juízes a tortura de ler longos arrazoados, não raro impertinentes, ainda às vezes desconexos e com emprego de termos difíceis. Deve ser banido o estilo pomposo e hermético: o segredo para o bom profissional das letras está em escrever com clareza e economia de palavras.

Cuidado redobrado então, teimosos “senhores da cola”, para não ser descobertos, passar por farsantes e amargar a desmoralização inevitável e merecida, sem comiseração!


Paulo Rigueti, advogado, ex-presidente da OAB Marília.

Fonte: Diário de Marília

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